quarta-feira, agosto 18, 2010

UMA NOITE EM 67, de Renato Terra e Ricardo Calil

Qual a real relação entre a música brasileira dos festivais dos anos 60 e o descontentamento com a ditadura militar que marchava impiedosamente rumo ao AI 5?
Como proteger a música genuinamente brasileira da invasão pop americana e pop-rock inglesa?Banindo a guitarra elétrica, emblema do imperialismo?

Estas são questões levantadas no ótimo documentário sobre a final do 3o Festival de Música Brasileira da Rede Record , talvez o mais emblemático de todos.
Seus protagonistas travavam uma batalha que abrangia não só a qualidade musical mas também ideologias como a ruptura entre a MPB e o Tropicalismo. Entre eles ninguém menos que Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos...

O filme consegue ao entrevistar os finalistas e os organizadores do festival nos transportar com rigor à época e seu zeitgeist ao mesmo tempo que apresenta entrevista com os mesmos personagens 43 anos depois quando todos, sem excessão ,tentam não demonstrar qualquer resquício de saudosismo sem deixar de ressaltar a importância daquela noite na vida de cada um.

A constrangedora apresentação de Sérgio Ricardo foi talvez um dos melhores momentos do filme por mostrar a ferocidade da platéia assim como a clara divisão ideológica/musical com Ponteio de Edu Lobo e Roda Viva de Chico de um lado representando os puristas "velhos e ultrapassados" e do outro Alegria, Alegria de Gilberto Gil e Domingo no Parque de Caetano representando o diálogo com o Pop.

Além de seu valor político, sociológico e musical, o filme , através do festival consegue captar toda a paixão e todo o drama de um país dividido.

E concordo com Caetano. Apesar de Ponteio de Edu Lobo com sua alegoria revolucionária ter ganhado o festival, Roda Viva do Chico foi sem dúvida a mais emocionante e deveria ter ficado com o primeiro lugar.


Chico Buarque e MPB 4 na melhor música do filme