sábado, agosto 21, 2010

COCALERO, de Alejandro Landes


Bolívia, 2005. Ano da eleição de Evo Morales.
Durante 60 dias este documentário segue os passos do pré-candidato e seus assessores, na maioria cocaleros, durante toda a Bolívia.
Se o filme não traz nenhuma surpresa cinematográfica ele traz, e muito, uma ampla discussão política podendo traçar paralelos à nossa situação eleitoral atual.

Imaginem a Bolívia como um círculo. Na metade direita fazendo divisa com o Brasil os departamentos (estados) de Santa Cruz, Beni e Cochamabamba, mais ricos ,mais industrializados, hegemones da política boliviana por anos.
Na metade esquerda os departamentos de La Paz, Pando, Oruro e Potosí, pobres, quase sem nenhuma infra-estrutura e com a maioria esmagadora de sua população indígena .

Eis que um líder indígena de Oruro se desponta entre os cocaleros, justamente contra a política americana de destruição das plantações de coca e se lança como um fortíssimo candidato da esquerda (literal e política) à presidência, prometendo melhorar a vida dos mais pobres.

Já vímos este filme antes? Pois Evo ganhou na Bolívia, Lula ganhou pela segunda vez no Brasil e está emplacando sua candidata, Correa ganhou no Equador....Todos em nome de seu povo.

Acabo de chegar de uma viagem intensa pela parte mais pobre da Bolívia e 5 anos após a vitória de Evo ela continua pobre.
No entanto, dentro da grande miséria boliviana muito foi feito no governo Evo nestes 5 anos, assim como muito foi feito por Lula no nordeste brasileiro nos últimos 8 anos, ou Dilma não estaria com mais de 70% das intenções de voto por lá.

Sob protestos ferozes da parte "direita"do círculo, o filme mostra personagens de Santa Cruz chamando Evo de índio analfabeto e que nunca quiseram ser governados por ele. A realidade é que a Bolívia hoje é um estado indígena, com uma liderança indígena e pela primeira vez na história conseguindo olhar para parte de seu próprio povo que nunca foi enxergada.

Se lá a divisão é entre esquerda e direita e aquí entre Norte e Sul, isso pouco importa. O que sabemos é que um governo nunca será eficiente se não olhar para todos os segmentos de sua sociedade. Na Bolívia está muito claro que isso não está sendo feito. Evo governa sem olhar para Santa Cruz e estados vizinhos que aliás já ameaçam separar-se de maneira praticamente irracional.
Evo vem criticando cada vez mais o "imperialismo capitalista" chegando a dizer absurdos como justificando a calvície dos europeus e o homossexualismo dos americanos ao excesso de hormônio na criação de seus frangos.
Além disso, graves questões de disputa política e econômica entre os estados governistas de Oruro e Potosí ameaçam levar este último para a oposição ,desestabilizando de maneira importante a atual configuração política do país.
A sensação que tive na Bolívia falando com pessoas apaixonadas por EVO e pelo MAS ( Movimento al Socialismo, seu partido) é de que o governo de Morales continua soberano e com o apoio da maioria, mas que a curva ascendente terminou. A tendência agora é que se aumente cada vez mais a insatisfação com seu governo uma vez que dificilmente ele conseguirá unir o país novamente.

Quanto à coca, o filme mostra com primazia que a planta nada mais é que um alimento e um remédio ao povo da região por mais de 10.000 anos e que se os americanos deturparam seu valor demonizando-a para proteger sua sociedade doente, isso não pode ser justificado queimando plantações e deixando o povo boliviano sem trabalho e sem parte de sua origem.
Como um velho cocaleiro diz no filme, a Coca-Cola ainda tem vastas plantações de coca em quase todo o território boliviano protegido com unhas e dentes e nunca destruído.
Afinal, Coca-cola é feita de que??





Foto tirada no "Museu de la Coca "em La Paz em agosto de 2.010

Vilarejo de San Juan no departamento de Potosí que estive há algumas semanas.

O radicalismo de Evo Morales começa a mostrar sua decadência através de frases como essa. No centro de La Paz, agosto de 2.010.

Casa com bandeira azul no telhado em Potosí. Sinal de apoio ao MAS (Movimento al Socialismo) e a Evo. A maioria das casas tem.