terça-feira, fevereiro 20, 2018

DON'T WORRY, HE WON'T GET FAR ON FOOT - Gus van Sant


O novo filme de Gus van Sant exibido na manhã desta terça-feira para jornalistas no Palast foi ofuscado pela grosseria do ator principal  Joaquim Phoenix na coletiva de imprensa. Phoenix destratou vários jornalistas inclusive o representante da TV Globo ao responder de maneira grosseira que odeia “perguntas de festivais”e que não queria estar ali. No final ainda ficou de costas para os jornalistas constrangendo o diretor Gus van Sant.
Don’t Worry He Won’t Get Far On Foot marca o reencontro de van Sant e Phoenix após 25 anos quando filmaram To Die For ( Um Sonho sem limites, 1995).
O filme conta a história do cartunista americano John Callahan ( 1951-2010).  Callahan era um alcoólatra de mão cheia que sofre um acidente e fica tetraplégico. Sem conseguir se livrar do vício se rende a um grupo de 12 passos ao estilo dos Alcoólatras Anônimos.
 Fugindo do cinema de autor, sua marca característica com a qual venceu a Palma de Ouro em Cannes com Elefante (2003), Gus van Sant se rende ao cinemão mas obteve um bom resultado. Apresentado este ano em Sundance  e exibido pela primeira vez na Europa hoje o filme tem Phoenix como força central e mostra as dificuldades em se vencer o alcoolismo e a superação da tetraplegia.  
     A bebida era a maior deficiência de Callahan e o acidente foi seu resultado direto. A redenção de Callahan está na suas tiras cômicas de humor negro, amados por uns, odiados por outros levando ao cerne do debate sobre o politicamente correto.
O filme se passa na transição entre o governo Carter e o governo Reagan (1980) e começou a ser filmado na transição entre o governo Obama e o governo Trump (2017). Gus van Sant diz que naquela época, em menor proporção, a ascensão do republicano levou a sociedade a questionar o politicamente correto.
Alcoólatra e cadeirante e ajudado por um ex-alcoólatra gay, Van Sant diz que Callahan encontrava na sua arte , por vezes agressiva, a única maneira de vencer o preconceito e o vício. Disse ainda que hoje em dia os Estados Unidos vivem um pesadelo político sem precedentes e não existe mais limites para o desrespeito as diferenças.
Joaquim Phoenix tem de longe  o melhor desempenho entre os homens até aqui e mereceria o prêmio de melhor ator .Se não fosse pelo papelão na entrevista contaria com o apoio da maioria dos jornalistas da Berlinale. O filme também tem chances de levar o urso mas  tiraria do festival de Berlim a áurea de cinema de autor ,colocando-o no mesmo patamar dos festivais mais comerciais.