DOVLATOV - Alexey German Jr.
O único filme
russo da competição foi exibido na lotada sessão das 9 da manhã no Palast.
Dovlatov conta a
história do escritor russo Sergei Dovlatov durante um período da sua vida em
Leningrado (atual São Petersburgo) no ano de 1971.
A União
Soviética, sob a mão de ferro de Brezhnev , comemorava mais um ano da revolução
, mas ao contrario dos membros do partido, a população em geral sofria com a
falta de perspectiva. Escritores
tinham que fazer parte do comitê
literário soviético e suas obras necessitavam de aprovação de camaradas.
Além disso deviam sempre ter um
cunho alegórico de apoio ao regime. Aqueles que não seguissem as regras eram
condenados ao ostracismo e muitas vezes perseguidos, presos ou exilados.
Dovlatov nunca
teve suas obras publicadas enquanto morava em Leningrado mas também nunca
desistiu de ser reconhecido. Seus
escritos possuíam sempre teor de denúncia e sua visão sobre o universo
soviético era sempre rejeitada pelos membros oficiais do governo. Muitas das
obras completas que Dovlatov enviava ao comitê literário acabavam descartadas
sem nunca terem sido lidas. Em uma delas ele descreve como os trabalhadores que
construíam o metrô de Leningrado em condições sub-humanas, encontraram os
restos mortais de 30 crianças enquanto escavavam. O destino do manuscrito foi a
lixeira da sala da secretária do comitê.
Outros
escritores tinham os mesmos problemas e muitos foram perseguidos como seu amigo
Joseph Brodsky que acabou no exílio. Nos encontros ilegais destes intelectuais
à margem da sociedade , regados a jazz e muita vodka, questionava-se como o povo que deu ao mundo
Dostoievsky, Tschekov, Tolstoi, Pushkin, entre outros tantos mestres, agora era
calado por um sistema de controle e manipulação. A voz era a única coisa que
restava a estes intelectuais e ela ia aos poucos sendo calada.
Sergei Antonov
só saiu do seu pais em 1989 após a queda do regime mas morreu no ano seguinte em
Nova York aos 48 anos. Ele é hoje considerado um dos maiores escritores russos
do século XX.
O filme de
Alexey German tem ritmo, retrata com vigor a realidade soviética do início dos
anos 70 e coloca o russo na lista
de grandes cineastas contemporâneos do seu pais. Na coletiva de imprensa, a
mídia russa presente em peso lembrou seus prêmios em Veneza por Paper Soldier (2009) e exaltou sua
importância no cinema russo atual.
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