O PROCESSO - Maria Augusta Ramos
A tão esperada
manifestação anti-impeachment e declaradamente pró- PT ,anunciada aos quatro cantos de festival,
aconteceu sob um frio de 2 graus e com um público de 20 pessoas embaixo do
relógio, marco da Potsdamer Platz.
Segurando faixas
acusando o processo de golpe parlamentar e do fim da democracia no Brasil, brasileiros se revezavam no
mega-fone entoando gritos de Fora Temer e tentando explicar aos dois alemães
presentes o que estavam fazendo lá.
O protesto foi
marcado antes da primeira exibição em Berlim do filme de Maria Augusta Ramos,
um retrato técnico de todo o processo do Impeachemt,.
A documentação
começa no dia da aceitação do
processo na Câmara por Eduardo
Cunha e termina no dia em que os deputados não acataram a denúncia contra o
presidente Temer.
A primeira cena
do filme, uma tomada aérea da esplanada, mostra o gramado dividido entre
“vermelhos”e “amarelos”, sugerindo a divisão da sociedade.
Ao
encontrar a diretora um dia antes da projeção, perguntei se a visão era de um
lado só. “Não, eu fiz um
documentário para retratar os fatos , mas isso não me impede de ter uma
posição.”, afirmou.
O
que vemos na tela é algo bem
definido. Mesmo tentando mostrar que existia uma massa a favor do processo , o
filme é totalmente focado na visão do Partido dos Trabalhadores e seus
bastidores no processo “kafkiano”segundo o senador Lindbergh Farias. Eis o nome do filme.
São
mais de duas horas de cenas compiladas das TVs estatais mostrando as votações
na Câmara, no Senado e nas suas comissões. Os brasileiros presentes não paravam de se lamentar nas
esdrúxulas cenas da votação no Congresso no dia da 17 de abril de 2016.
Aplaudiam toda vez que Dilma aparecia e vaiavam Eduardo Cunha, Aécio Neves , Bolsonaro e vários da oposição.
Foi um filme demasiado interativo para padrões alemães...
As
poucas cenas efetivamente filmadas,
acompanha os bastidores do PT e mostra Gleisi Hoffman pudica , quase heroína. Em uma das poucas falas
sensatas, Gleisi pergunta aos companheiros porque o partido se afastou dos
movimentos sociais. Lindbergh Farias é caracterizado como cão-de-guarda ,
aquele que vai às armas se necessário mas é o Ministro José Eduardo Cardozo que
arrancava efusivos aplausos com sua oratória firme e determinada a combater as
falhas no processo.
Do
outro lado, o filme só se apóia em Janaína Pascoal e todas as sua bizarrices.
Quando não está se alongando antes da sessão está tomando um Todyinho em cima
dos autos. Motivo de muitas risadas durante a exibição, Janaína foi a única
personalidade retratada condizente com seu comportamento. Faltou um contraponto.
O
filme consegue retratar as falhas dos argumentos da acusação e mereceria uma
reflexão mais técnica se não fosse tão partidário. Sem conseguir dinheiro do governo
brasileiro através das leis de incentivo, o filme captou fundos do próprio
Festival de Berlim através do World Cinema Fund e de “crowdfunding” segundo a
diretora.. Talvez isso explicasse a presença da diretora da categoria Panorama,
a qual o filme concorre a prêmio, abrindo a sessão.
Do
meu lado direito um brasileiro se debulhava em lágrimas durante o filme pedindo
justiça enquanto do outro, um casal de alemães politizados ( ele do SPD ,partido
de esquerda e ela do CDU de direita) riam com as bizarras sessões no nosso
parlamento. “Isso é um circo”, comentou ela no final da sessão.
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