sexta-feira, março 02, 2007

PECADOS ÍNTIMOS, de Todd Field por Juliana Sabbag Scanavini

A péssima tradução do nome do filme e a péssima sinopse que está sendo apresentada na mídia pode provocar um certo desânimo em ir ao cinema para assitir um filme cotado com 2 estrelas nos principais jornais do país. Mas, engana-se o espectador. Little Children (difícil usar o título brasileiro) é o melhor filme em cartaz no momento.

Há um narrador em off (com discurso bem elegante), que nos serve de janela para dentro da alma dos personagens e há os próprios personagens aos quais vamos conhecendo e nos identificando a cada momento da história, ou melhor, das várias histórias que o filme retrata.

Num primeiro (primeiríssimo mesmo) momento, pensamos que é mais um filme sobre a sociedade média suburbana americana. Mas ele vai além. Ele vai muito além da crítica aos costumes e a instituição familiar. Ele não é só uma história sobre pais, filhos e infidelidade. Ele nos apresenta um olhar bastante humano sobre o conflito entre o desejo e a razão, e mais, sobre a ilusão.

O filme nos fala da dificuldade de aceitar a vida adulta, de amadurecer e enfrentar os problemas reais. Nesse aspecto, ele lembra bastante o filme "A Criança" (L`Enfant), esse sim, traduzido com propriedade. Em ambos os filmes, as crianças dos títulos referem-se aos adultos, as pequenas grandes crianças. Aquelas que nos despertam o descompromisso, a pureza, a proteção, a irresponsabilidade. No final do filme, numa clara troca de papéis entre mãe e filha, esta diz, com a mãe no colo, "está tudo bem, mãe !".

Nesta mesma direção, a conversa do personagem pedófilo com sua mãe é comovente demais, um dos pontos altos do filme, que junto com a cena da piscina, quando as mães retiram suas crianças da água, fazem nossas bases tremer, como poucas cenas vistas no cinema.

Todd Field, de "Entre Quatro Paredes" já entrou no rol dos grandes diretores.

Ótimo filme!