O REFÚGIO, de François Ozon

Sempre tive uma relação ambígua com o cinema de François Ozon.

Apesar de ter adorado Sob a Areia e ter simpatia por Swimming Pool, achei chatésimo outros hypados filmes dele como Oito Mulheres e Angel .

Fui assistir O Refúgio de peito aberto e para minha surpresa vi o melhor filme dele e talvez um dos melhores do ano.

A primeira eletrizante meia hora com fortes cenas de viciados em heroína se picando até a morte num apartamento luxuoso em Paris conseguiu ser mais realista que as cenas do magnífico Requiém para um Sonho do Aronofsky e já traz uma primeira quebra ao mostrar uma realidade até então só mostrada em ruas, na alta camada da sociedade européia.

Isabelle Carré vive Mousse , uma grávida viciada em heroína que nos questiona o tempo todo sobre como a força da droga trespassa o instinto maternal. Ao saber da gravidez ela consegue fazer o mínimo para que possa ter o filho sem maiores conseqüências mas sempre sabendo que no fundo a heroína tinha muito mais importância na sua vida que o próprio filho gerido.

Durante a gestação, longe das drogas mais pesadas, Mousse se esconde do mundo e de sí mesma numa casa na costa francesa , cedida por um ex-amante onde recebe a visita do irmão do pai da criança, gay assumido que tenta trazer um pouco de humanismo à ríspida carcaça de Mousse.

Mousse tenta substituir sua carência afetiva e da própria droga, por contatos físicos com desconhecidos através da "calentação", um abraço por trás que envolve ela e o bebê e que por muitas vezes terminava em bizarras cenas de sexo com estranhos.

Interessante a conexão entre a condição de filho adotado do personagem vivido pelo irmão Paul (Louis Ronan Choisy), sua boa relação com a mãe ao contrário do irmão junkie e a realidade da maioria dos filhos de mães viciadas que terminam na mesma condição.

Talvez a bandeira política levantada pelo diretor ao criar no desfecho um questionamento sobre a adoção de crianças por gays pudesse ter sido evitada, mas não tira o brilho deste ótimo filme.

Poster de O Refúgio, de François Ozon.