terça-feira, outubro 31, 2006

COISAS QUE O SOL ESCONDE,de Yuval Shafermann

Sempre que a Mostra vai chegando ao final algumas indicações são inevitáveis. Ontem saiu os 15 melhores Filmes do Público na categoria Novos Diretores, entre eles COISAS QUE O SOL ESCONDE.
É nessa época que ao sair do cinema lembro que o intragável "Encantadora de Baleias" já foi o grande vencedor do público em uma das Mostras anteriores.
Não que Coisas Que o Sol Esconde seja um filme ruim, mas é bem mediano.
Os personagens de uma família completamente desestruturada são retratos da solidão, individualizados pelas mazelas de cada um que juntos não conseguem se acrescentar. O conceito de família aquí é pautado pelo egoísmo onde não existe amor, consolo e muito menos solidariedade entre sí.
O pai busca o reencontro com o avô no seu leito de morte após 10 anos sem contato e representa a base do seu fracasso e da própria família. A mãe considera seu papel principal na vida cumprido após ter criado seus 3 filhos e tenta se descolar da família criando uma arte banal quando na verdade não aceita o fracasso de seus próprios filhos.
A cena da rave no final do filme era digna de baladas profissionais que eu adoraria participar mas o enfoque na cara de perdedor do personagem destrói não só a cena como toda a intenção do filme.
Nota 5,0.

UM DIA DE VERÃO,de Franck Guérin

Mais uma bomba francesa na Mostra. Não tenho tido sorte com os franceses este ano, com excessão de Comédia do Poder, do Chabrol (a atuação da Isabelle Huppert não sai da minha cabeça).
UM DIA DE VERÃO foi mais uma roleta-russa num dos encaixes malucos da Mostra e o resultado foi péssimo.
Atuações fraquísimas ( dava vontade de jogar um balde de água fria na cara do personagem Sebastian) e um roteiro escalofobético ( uma trave de futebol cai em cima da cabeça de um garoto que acaba morrendo gerando conflitos em todos os outros personagens do novelão)o filme é forte candidato ao Abacaxi Paulista. Nota 1,0.

EDMOND, de Stuart Gordon.

Roteiro de David Mamet.

Edmond é um típico RED-NECK, esse tipo de americano branco que assola o interior do país.
O red-neck é racista, homofóbico, intolerante e acima de tudo, é estúpido. Compeletamente influenciável o típico red-neck é machista e para muitos deles a violência várias vezes se justifica.
Lembro quando desembarquei em Knoxville, Tennesse, coração da redneckland para uma viagem de trabalho e ao saír do aeroporto me deparei com enormes outdoors com imponentes armas convidando o cidadão para "a maior exposição de armas de fogo do mundo". Era a maneira que a cidade dava suas boas-vindas ao visitante.
Red-neck que se preze é eleitor de Bush, apoia massacre no Iraque e acha que a raça branca é infinitamente superior uma vez que foram seus antepassados que deram origem à Ku-Klux-Klan.
Pois Edmond é um red-neck perdido numa métropole , exponenciado e exagerado talvez por uma adaptação fraca da peça de teatro homônima. O filme tem vários tons a mais do que deveria e por muitas vezes beira o fantástico.
Muito mal dirigido, o correto William Macy tenta segurar o filme mas não consegue. Como comentou meu vizinho de poltrona Juan ao final do filme, talvez se Mamet tivesse dirigido sua própria história, o resultado tivesse sido melhor.
Nota 3,0.

STLL LIFE,de Jia Zhang-ke por Maria Carolina Beyruti Curi

Primeiros comentários sobre STILL LIFE por MARIA CAROLINA BEYRUTI CURI :

Hoje fui incumbida de uma missão quase impossível: escrever sobre o filme Still Life.

Filme chinês que ganhou Leão de Ouro no Festival de Veneza onde se passam duas histórias as quais tem em comum encontrar pessoas do passado.
Na primeira, Han um mineirador sai em busca de sua mulher para rever sua filha após 16 anos.
Na segunda, Shen Hong é uma enfermeira que também sai em busca do marido que não dá sinais de vida há 2 anos.
O lugar é a cidade de Fengjie, que está desaparecendo não só naturalmente pela barragem das Três Gargantas, como pelas implosões e demolições que resultam na modernização e crescimento da China Comunista .
A música e a fotografia das primeiras e últimas cenas foram o ponto mais alto do filme.
A história começa bem, Han se adapta à uma nova vida, enquanto tenta encontrar um endereço submerso pelas águas.
Na metade do filme entra a segunda história, momento esse que cheguei até a me confundir ao pensar que Han e Shen estivessem em busca um do outro, em lados opostos da cidade.
Confesso que tenho uma certa dificuldade com nomes chineses.
O filme adquire um ritmo muito lento, apesar das belas paisagens.Resisti bravamente em deixar a sala.
Elemento fortíssimo no filme é a água em diferentes versões, simbolo do renascimento.
Os dois personagens quase atingem seus objetivos e dão um novo rumo a suas vidas.
Na última cena, belíssima, um chinês se equilibra andando em um fio no segundo andar de uma casa até outra. A cena é observada por Han, antes de partir.
Tenho certeza que os meus 5 ou 6 anos de Mostra não foram suficientes para poder interpretar todas as simbologias do filme. Saí com uma sensação que faltou algo.
Vou mais longe, coloco em xeque os concorrentes do Festival de Veneza este ano pelo prêmio, o qual deixa muito a desejar. A nova nova safra de filmes brasileiros que vem aí não fariam nem um pouco feio por lá, tenho certeza!
Não sei se me sinto apta a avaliá-lo, ou se ainda tenho que assistir a muito filmes chineses. Se fosse dar uma nota, sinto que aumentou um pouco desde que deixei o cinema, pois ao escrever esse texto pude refletir um pouco mais sobre o filme: 4,0 .


por MARIA CAROLINA BEYRUTI CURI

LEONARD COHEN, I'M YOUR MAN!-de Lian Lunson por JULIANA SABBAG

por JULIANA SABBAG:

Na batalha naval da mostra, meus tiros, felizmente esse ano, estão acertando tudo...nenhum foi pra água ainda!!
Documentário sobre a vida e obra, desse que foi e ainda é um grande poeta da música, soturno, depressivo, mas ainda, um grande poeta!
Com exceção da legenda eletrônica que definitivamente não funcionou no arteplex, o pouco que pudemos captar do documentário e das músicas, não foi pouco. Diria até, que suficiente o bastante para me apaixonar de vez por ele. O pouco que conhecia de LC era através do Rufus Wainwright, musico não menos sublime, que entrou pra minha vida a uns anos atrás e nunca mais saiu dela. Numa reportagem do Rufus na TV, ele declara Leonard como sua maior influência musical, além de ter regravado Halleluja (dá pra conferir a versão dele no filme Shrek), uma das músicas mais lindas que já exisitiram!
Guardei o nome de Leonard na cabeça e quando vi que fizeram um documentário pra ele na mostra, e que não só o Rufus como o Antony e o Nick Cave, davam depoimentos e cantavam no filme, quase enlouqueci e foi um dos primeiros filmes que comprei.
LC é verdadeiramente um poeta...suas impressões sobre a vida, sua história, seus depoimentos, suas letras, sua ironia são de arrepiar...a passagem da sua vida por um monastério, enriquecida pelo conhecimento de um guru japonês, é o ponto mais alto do filme. Com uns 72 anos, ainda é um homem com uma percepcção inigualável da vida. Fiquei bastante comovida com a profundidade desse homem. Queria ter ido com um papel na mão e ter anotado todas as falas dele...
E a parte isso, o filme é delicioso nas músicas...Rufus, como sempre, encantador...Antony, magnífico e Nick Cave, de tirar o chapéu. Não posso deixar de mencionar a presença do Bono e do The Edge, participações improváveis nesse documentário, que podem até receber críticas que LC se rendeu ao mainstream, mas,sim, o U2 deu um toque especial ao filme.
Vou torcer pra essa fita vir até nós e imortalizar Leonard Cohen !


por JULIANA SABBAG, especialmente para o Blog

domingo, outubro 29, 2006

PRINCESAS, de Fernando León de Aranoa

Quem assistiu ao ótimo LUNES AL SOL com o Javier Bardem já conhece o cinema de cunho social de Aranoa.
PRINCESAS é melhor.
É uma fábula onde duas princesas estão nesta encarnação vestidas de prostitutas e precisam se provar o tempo todo nas duras ruas de Madri.
Uma espanhola e uma dominicana representam a velha e nova guarda da profissão não por diferença de idade mas pela nova ordem mundial onde até na prostituição as bem mais sensuais imigrantes ilegais vem ocupando espaço outrora preenchido apenas com oferta local.
Mas a vida não é fácil para nenhuma das duas.Diferentes em tudo, até no modo em que fazem sexo com seus clientes, ambas sobrevivem da maneira que podem.
Cenas ótimas como a prostituta de tamancos se equilibrando nua no meio-fio ao som embriagante de Mano Chao como as duas dançando lado a lado num clube madrilenho com todas as suas diferenças reforçam a boa trama e fazem deste um filmaço.Nota 8,0.
" Princesas sâo seres muito sensíveis. Tão sensíveis que não sobrevivem muito tempo longe de seu reino."

AS LEIS DE FAMÍLIA, de Daniel Burman

Um Burman menor, mas ainda bom.
Com o mesmo estilão do excelente Abraço Partido mas sem metade da sua força, As Leis de Família nos leva novamente à comunidae judaica argentina, desta vez de classe média-baixa mostrando um novo aspecto no espectro social de Burman.
O enredo é interessante, de novo pontuado por relação pai e filho e suas consequencias na vida de cada um. Uma espécie de deja-vu ronda a maior parte das cenas.
Atuação de Daniel Hendler novamente IMPECÁVEL e salva a trama.
Nota 6,5.

HOLLY, de Guy Moshe

Outra ÓTIMA surpresa da MOSTRA deste ano.
O "chamariz" do filme, o ator Chris Penn (irmão de Sean Penn) , morto no início deste ano por pouco não afunda o filme com sua atuação ruim, mas ela é compensada pela excelente narrativa e maneira em que a compelxidade do tema é apresentado.
Meninas vietnamitas de 10,12 anos são vendidas por suas famílias e levadas ao Camboja para prostituição e satisfazer europeus e americanos pedófilos com suas taras por meninas principalmente virgens.
Durante o ano sabático que tirei em 1995 e viajei pelo sudeste da Ásia, viví de perto várias cenas do filme em que turistas são abordados o tempo inteiro por prostitutas de todas as idades. A situação é pior na Tailândia e justamente no Camboja.Como fiquei muito tempo viajando por estes países, depois de um tempo você simplesmente ignora o fato da mesma maneira que ignoramos várias das mazelas de nossas cidades por conformismo.
Mas HOLLY nos leva ao universo da prostituição forçada, escrava, de crianças de até 5 anos que são forçadas por seus pais a satisfazerem estrangeiros.
Num dos melhores diálogos do filme, o americano em busca da redenção ao tentar salvar Holly e sua própria vida encontra um alemão numa vila pobre e o questiona se ele não acha errado buscar meninas tão jovens e , na maioria das vezes, escravas. A resposta é simples: Isto faz parte de uma cultura milenar e não há nada que o ocidente possa fazer para isso acabar. Já que existe, então desfrutemos!Comodismo absoluto.
Paralelamente a ONG dirigida pela francesa que tenta lutar contra a escravidão de crianças vietnamitas vendidas à prostituição se mostra tão ineficaz quanto a capacidade do americano de se redimir de seus pecados do passado não explorados pelo filme.
Interessante: Nota 7,0


Foto tirada por um amigo recém-chegado do Camboja que expressa a alma do filme.

C.R.A.Z.Y.- de Jean Marc Vallée

Primeiro grande filme de Quebéc que assisto desde o épico de Denys Arcand, Invasões Bárbaras..
Por ter ido 5 vezes a Montreal nos ultimos 18 meses a trabalho, o delicioso sotaque Quebecoise me soou muito familiar e me ajudou na análise do personagem. O canadense metropolitano francófono não é americano, não tem nada a ver como canadense anglófono e muito menos europeu. O Quebecoise é único. Conservador e liberal ao mesmo tempo,eles querem a independência por isso se fecham na sua própria cultura mas ao mesmo tempo tem horror de serem confundidos com seus vizinhos de baixo. Ou mesmo de lado.E aí se abrem para o mundo.
Último filme de sexta-feira começando a meia-noite exige muita disposição por parte de quem assiste e o ritmo do filme ajudou bastante.
C.R.A.Z.Y. foi uma surpresa agradabilísima , repleto de qualidades e apesar da temática complicada, a visão apresentada foi para mim no mínimo inovadora.
Os conflitos e angustias de Zac, o protagonista quebecoise são apaixonadamente demonstrados quando ele canta "Space Odity"de David Bowie no melhor momento do filme. A letra da música e a força do ator naquele momento resume as intençoes verdadeiras do filme. De maneira suave e sensível ele nos mostra o que passa na cabeça de Zac e não só no seu tesão.
Roteiro correto, atuações ótimas ( a mãe, Danielle Prouix está perfeita!)e reprodução fidedigna do universo jovem dos anos 70 e 80 em Montreal completam a obra.
Talvez a parte da viagem a Jerusalém pudesse ser menor.
Recomendo! Nota 8,0.

sábado, outubro 28, 2006

HAMACA PARAGUAIA- de Paz Encina

Hamaca Paraguaia.....AAAAAh hamaquita....
Desde que comecei a ler sobre ele logo associei com Mal Dos Trópicos , o chatíssimo tailandês aclamado pela crítica nacional algumas Mostras atrás como a salvação do cinema contemporâneo. Lembro de um artigo do Mertem no Estadão que me fez ir correndo ao cinema de tão eufórico que ele tinha ficado com o filme. E eu achei o filme mais chato do mundo contemporâneo. Eu e meu amigo Raul Lores....
Pois tive um déja-vu quando lí a crítica internacional : o "primeiro filme paragauaio em 30 anos", falado em Guaraní.Eram tantos os elogios mas nenhum me convencía.
Mas cinéfilo teimoso não adianta. Enquanto ele não for ver ele não sossega. E o horário encaixava direitinho na programação do Arteplex de ontem.
Pois bem. Olhe a foto abaixo:



O que você vê? Uma rede (hamaca) com dois paraguaios dentro, certo?
Pois esta mesma cena é filmada durante horas. Ambos não mexem a boca mas os diálogos existentes, quse suspiros, me lembraram alguns filmes do Sokhúrov.Às vezes interessantes, os diálogos metafóricos sobre a falta de chuva, o latido do cachorro, o filho que foi pra guerra e não voltou e a posição da rede eram completamente maximizados pela falta de ação. Falta TOTAL de movimento.Sem brincadeira.
Saindo do majestoso NUOVOMONDO e ainda sabendo que vinha um grande filme canadense pela frente, os diálogos de Sokhurov suspiravam nos meus ouvidos e de uma hora para outra me ví dentro da tal da hamaca, balançando suavemente no chaco paraguaio e ..........dormí!Dormí profundamente.
Acordei a cinco minutos do final e advinhe? A câmara continuava na mesma posição, os paraguaios continuavam na mesma posição, sentados na hamaca que estava na mesma posição e os diálogos de Sokhurov continuavam no mesmo tom.Dava para não dormir???
Não sei se sonhei mas em algum momento o paraguaio estava cortando cana por isso talvez entre uma loooooonga cena da hamaca como na foto e outra loooooonga cena da hamaca talvez tivesse tido uma outra loooooonga cena de um paraguaio cortando cana no chaco.
Não me sinto apto ( nem disposto) a pontuar.
Tome bastante café antes da sessão.

NUOVOMONDO-de Emanuele Crialese

FORTÍSSIMO CANDIDATO A MELHOR FILME DA MOSTRA, essa é a primeira obra-prima da Mostra deste ano sobre uma família de sicilianos que embarcam para os Estados Unidos num navio lotado no início do século 20.
Não sei porque mas escolhí assitir a este filme pois pensei que era dos mesmos diretores do excelente GENTE DA SICILIA. Mas me confundí; os diretores de GENTE DA SICILIA são dois franceses, Danielle Huillet e Jean-Marie-Straub.
Surpresa ainda maior foi assitir a um filme fabuloso candidato a vários prêmios pelo Blog, entre eles melhor fotografia, edição, direção de arte, trilha sonora original, figurino, roteiro, conjunto da obra e direção.Os atores, é verdade, apesar de precisos não são a maior força do filme. Destaque para Charlotte Gainsbourg ( a inglesa perdida. Ela é neta do Serge Gainsbourg??), Vicenzo Amato (o pai)e Aurora Quattrochi( a avó, esta sim com a melhor atuação do filme).
Mas o enredo é fabuloso e algumas cenas estão entre as mais belas que ví nos ultimos tempos:
- A cena inical com pai e filho subindo uma montanha de pedras descalços.
- O navio partindo rumo ao "Novo Mundo e o "desligamento" do porto....Detalhe para o diálogo entre alguns italianos alojados no porão do navio quando um deles diz nunca ter estado com tantos "estrangeiros". A Itália, mesmo unificada ainda se vía como vários pequenos países no início do século 20.
- As cenas na alfândega americana são todas excelentes, mas as que os imigrantes caminham entre corredores e escadas são de tirar o fôlego.
Aliás mostrar a alfândega americana tão inquisitora como nos dias de hoje foi um excelente modo de mostrar que a arogância do império não vem do pós-guerra mas do final do século 19 quando os imigrantes começaram a chegar em massa. Talvez o simples fato de tanta gente simplesmente querer entrar nos Estados Unidos solidificou o sentimento de superioridade, racismo e, o que me deixou mais chocado, eugenia. Sim, existiam testes para os imgrantes onde eram medidos fatores físicos , psicológicos e níveis de inteligência. Para não ser deportado o imigrante tinha que passar em todos.Mais ou menos o que a Alemanha Nazista fez alguns anos mais tarde , com a diferença que os americanos deportavam e os alemães, matavam.....
Último comentário sobre a sensacional cena final de todos nadando no rio de leite americano....De plasticidade ímpar!
Chegando em casa ví também que o filme ganhou o Leão de prata de revelação em Veneza este ano.Mais que merecido.
Nota 10,0. DEZ, com todas as letras.. Se você for ver apenas um filme na Mostra, assista a este.

TRANSE- de Teresa Villaverde

É inevitável lembrar do ótimo TERRA PROMETIDA de Amos Gitai ao assitir a TRANSE. Não pelas qualidades técnicas dos filmes mas pelo enredo. Mulheres do leste europeu que vão atrás do sonho capitalista no ocidente e acabam em redes de prostituição. Enquanto Gitai é mais documental, Teresa Villaverde é mais poética. Ou pelo menos tenta ser.Tirando uma cena em que uma prostituta italiana completamente fora de sí canta passionalmente a música "bambola", o filme patina por ser muito truncado em vários momentos e os cortes abruptos entre várias cenas me fazem pensar se isto é um novo estilo ou se são erros de edição mesmo. Se o filme tivesse 30 minutos a menos ele seria regular. Nota 3,0.

sexta-feira, outubro 27, 2006

BYE BYE BERLUSCONI, de Jan Stahlberg

Finalmente ! Demorou mas chegou! O primeiro grande filme da Mostra de cinema de São Paulo! De viés totalmente político-anárquico, Bye Bye Berlusconi é uma sátira excelente ao duvidoso desempenho deste polêmico político italiano que no filme é representado por um sósia PERFEITO, com todos seus trejeitos,de nome Topolino ( Mickey Mouse), prefeito eleito de Patópolis onde a corrupção rola solta.
O filme mistura o making-off das filmagens e o roteiro do filme sobre Patópolis. Já que eles tem que conviver com um político do nível de Berlusconi, por que não mostrar ao mundo de maneira divertida o que ele realmente faz, todo mundo sabe mas ninguém faz nada? E mais, o roteiro de Patópolis inclui um julgamento de Topolino onde ele deve responder por todos os seus processos de corrupção e a pena é definida por uma votação pela Internet! A cena do advogado de Topolino sendo enterrado coberto de caixas da Parmalat diz tudo sobre o filme.....
Muito Bom! Nota 9,0 !
Ps- Em época de eleições na Patolândia tropical, nada mais apropriado! Diretores brazucas, animai-vos !!

DAVID & LAYLA- de Jay Jonroy ( a.k.a. wannabe woody allen)

Roteiro:
Rapaz judeu, Nova York, crise sexual, mamma Ydish, psiquiatra...
1 chance pra advinhar o diretor.... Pois é, não é.
É Jay Jonroy, diretor presente na Mostra de cinema que falou durante 15 minutos em Portugues antes do inicio da sessao sem que ninguem entendesse uma palavra mesmo com insistentes pedidos da tradutora e da platéia para que ele falasse em inglês. E mais, após vinte minutos de projeçao houveram 5 minutos em que a legenda eletronica falhou mas com diálogos fáceis e pouca gente reclamou. Quase no final do filme as luzes se acendem e a tradutora com cara de surpresa diz que por insistencias quase que agressivas do diretor o filme seria parado e retomado do ponto onde a legenda tinha falhado, ou seja, mais de 1 hora antes!!. Após muitas vaias e muita confusão apenas a cena foi exibida com legenda e depois retomada do ponto que havia parado...uma rápida análise do (mala) do nosso diretor.
Quanto ao filme, há cenas interessantes sobre um relacionamento entre um judeu e uma muçulmana curda refugiada. Interessante a representação dos costumes das duas culturas mesmo que estereotipados. Tudo sempre sob a sombra inconfundível de Woody Allen.Em escala infinitamente menor,lógico.
Nota 6,0.

UM BOM ANO - de Ridley Scott

Junte um diretor inglês capaz de fazer um clássico como BLADE RUNNER ( Ridley Scott), um ator Blockbuster nascido na Nova Zelandia ( Russel Crowe), uma das melhores atrizes francesas da atualidade ( Marion Cotillard), um "monumento" italiano ( Valeria Tedeschi), paisagens bucólicas da Provence e principalmente, produção americana ($$$), o que resulta???
Uma baboseira....mas agradável.
Comercialíissimo, previsibilíííssimo ( na primeira cena voce já sabe qual vai ser a cor do letreiro dos créditos no final) e feito pra fazer dinheiro, UM BOM ANO é o tipo de filme que eu chamo de "enxágua-cerébro". Já que o filme foi feito pra fazer dinheiro mesmo e nem adianta tentar achar qualidades cinematográficas na história manjadíssima do business-man de sucesso em Londres que resolve largar tudo pela redenção bucólica no campo francês, o jeito é aproveitar pra entrar na viagem e não lembrar de nada. Não buscar motivos que te levaram a ver aquele filme, não lembrar que temos eleiçoes no domingo, não lembrar que o Bush ainda tem dois anos de mandato , não pensar em NADA!
Aí dá resulatado e o filme fica suportável....Nota 5,0.

ZONA DE CONFLITO - de Julia Bascha por Juliana Sabbag

Da cinéfila de origem síria JULIANA SABBAG:


Até agora não descobri se ela é uma diretora brasileira que mora nos EUA ou no Oriente Médio...vou pesquisar e depois informo aos interessados...nem se ela é judia ou árabe...
Esse é um daqueles filmes surpresa, que a mostra guarda pra gente e que infelizmente não nos dá o gosto de revê-lo em circuito nacional...filme com legenda eletrônica, muito provável que não entra em cartaz...mas vamos lá. É um documentário, o guia da folha não informa isso, mas para nosso deleite, lá estava Julia Bascha, ao vivo e a cores, explicando quase 11 hrs da noite antes do filme começar, que o mesmo era um documentário, que as cenas eram reais e as pessoas também...agradeceu a mostra num discurso simples e delicado de poder apresentar o filme em SP e que estava a disposição depois do filme para debates...Em tempo: num português perfeito.
Da Julia Bascha iluminada na frente da telona do arteplex, passamos para o tão nosso conhecido Oriente Médio, cinzento, sem perspectivas. O filme trata algumas histórias particulares de israelenses e palestinos que perderam familiares em tantas guerras já exisitentes desde a criação do Estado de Israel, em 67. Essas pessoas estão unidadas, dos 2 lados, em movimentos pacifistas reais, como Fóruns permanentes de discussão sobre a paz. Interessante perceber como pensam cada uma dos lados, dos jovens aos mais velhos, mas como pensam lá no fundo mesmo, na alma de cada um. Esse é um mérito da Julia Bascha, de retratar uma história, mas do que retratada nos cinemas, mas de forma muito pessoal de cada família, sem tomar posições, sem cair no melodrama, sem exaltar a guerra em si, mas principalmente por mostrar que há solução em muitos momentos e não há solução em muitos outros momentos. O filme comove ao retratar o perdão de forma tão profunda.
Aplaudido, sessão encerrada depois da meia-noite, sem direito a debate com ela, deparamos com alguns globais a prestigiando como Mel Lisboa e Dado Dolabella, amigos da diretora, pelo que percebi na saída do filme.
Excelente surpresa na mostra!!

por JULIANA SABBAG

O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS - de Cao Hamburger por Juliana Sabbag

Juliana Sabbag, cinéfila e amiga do Blog, comenta sobre dois filmes que assistiu:


Numa sessão lotada a 1 da tarde no Arteplex, com a compania mais do que agradável da ChinChin (amei esse novo apelido), eis minha estréia na mostra...
Não que não soubesse das boas críticas do filme, inclusive vencedor do prêmio do público no Festival do Rio, mas mostra é sempre surpresa, tem lá os exageros dos críticos, tem uma supervalorização dos filmes, por estarem na mostra, mas enfim, apostei e me dei de presente essa "siesta" deliciosa.....
O filme narra a trajetória de um menino, em 1970, fanático por futebol e pela Copa que é deixado pelos pais (que vão sair de "férias") na casa do avô no bairro judeu de SP, Bom Retiro.
Em meio a ditadura militar, a copa do mundo, as diversidades culturais do bairro, os ritos judaicos, o menino Mauro (gracinha) vai trilhando seu caminho e descobrindo o mundo ao mesmo tempo que espera a volta dos pais. É comovente o olhar desse menino, a genorisade das pessoas a sua volta, a delicadeza das relações que começam a ser estabelecidas com a vinda desse menino ao bairro. A amiguinha Hanna merece atenção especial, é a melhor personagem do filme...e a mãe dele, atuação da Sabrina Spoladore, de quem já sou fã desde Lavoura Arcaica, é exemplar.
Saí um pimentão vermelho e inchado de 9 meses de gravidez...mas saí feliz por saber que nosso cinema vem crescento magistralmente a cada ano. Parabéns Cao Hamburger por ter realizado um filme grande!!!

por JULIANA SABBAG

quinta-feira, outubro 26, 2006

CLIMATES- de Nuri Bilge Ceylan

Mais conhecido como SACRIFÍCIO TURCO (de assistir...). Do mesmo diretor do chatíssimo UZAK, tão aclamado em Cannes - eu definitivamente não me identifico com essa linguagem. Foi a segunda e última chance.
As estonteantes paisagens turcas (e ele abusa delas, do litoral às montanhas nevadas passando por incríveis ruínas de templos dolomitas) são completamente tragadas pela velocidade de níveis nanométricos por segundo e uma história (des)interessante mas muito mal explorada sobre um casal buscando a felicidade no meio de uma abissal solidão. O filme não chega a lugar nenhum. Na verdade acho que ele nem sai de lugar nenhum. Nota 2,0.
Ps: A foto abaixo foi tirado por um Paparazzo turco da coluna social do Istambul Post que se infiltrou dentro da sala durante a projeção e flagrou um famoso diretor paulistano interessadíssimo no filme....

INFÂNCIA ROUBADA - (TSOTSI) - de Gavin Hood

Me pergunto quantas vezes Gavin Hood assistiu a Cidade de Deus antes de filmar INFÂNCIA ROUBADA. Ambos os filmes tem muita coisa em comum: Fotografia exuberante, edição ousada, violência e uma base comum para seus conflitos, a exclusão social. Além disso Zé Pequeno e Tsostsi tem muito em comum.Os dois vem praticamente do mesmo lugar, um de uma favela em Johannesburgo e o outro de uma favela no Rio de Janeiro.Ambos lideravam uma gangue. Ambos matavam sem pensar. A única diferença entre eles é que enquanto a vida endureceu Zé Pequeno, ela amoleceu Tsotsi, mesmo sendo tarde demais para qualquer tipo de redenção.
Apesar de não possuir a mesma força e principalmente o mesmo ritmo, Infância Roubada é um bom filme pois possui várias das qualidades de Cidade de Deus, mas eu continuo ficando com o segundo. Infância Roubada roubou injustamente o Oscar de melhor filme estrangeiro de um dos melhores (senão o melhor) filmes da Mostra do ano passado,Paradise Now.
Mas vale a viagem. Nota 7,0

quarta-feira, outubro 25, 2006

MUDANÇA DE ENDEREÇO-de Emmanuel Mouret

Uma daquelas roubadas que a Mostra de Cinema te obriga assistir quando você pratica roleta russa e entra num filme sem saber nada sobre ele. Sessão da tarde açucaradíssima sem nenhuma referência positiva. Nem Paris ficou bonita nesse filmeco. Completamente dispensável. Não assista. Nota 1,0.

NUE PROPRIÉTÉ - de Joachim Lafosse

Depois do trabalho fantástico no vencedor "A Criança" dos irmãos Dardenne fiquei curioso para ver mais um filme com o ator Jeremie Renier. Mas em NUE PROPRIÉTÉ fica bem claro que um filme mal dirigido compromete totalmente o trabalho de um bom ator. Diferente do seu trabalho anterior, Jeremie Renier está super exagerado num roteiro frágil e cheio de clichets de um drama familiar belga sem nenhuma originalidade. A cena da mãe catando os cacos de vidro da mesa despedaçada não poderia ser menos original. Nem Isabele Huppert salva esse dramalhão com cara de ópera e tragédia no final , muito menos o irmão de Jeremie Renier,Yannik Renier que não tem metade do talento do irmão.Nota 3,5.

terça-feira, outubro 24, 2006

12:08 - A LESTE DE BUCARESTE -de Corneliu Porumboiu

A Mostra de São Paulo tem um tipo de filme que é típico: Narrativa lenta, planos fechados e orçamento barato que de alguma maneira resume bem o cinema iraniano tão apreciado por Cakoff e seus seguidores. Pois A LESTE DE BUCARESTE reúne todas estas características e até a sua metade é um típico filme iraniano filmado no leste europeu com algumas referências ao cinema de Emir Kusturica ( a cena da orquestra é plágio!). Muito bem dirigido mas com alguns graves erros de produção ( várias vezes é possível ver o microfone nos planos mais fechados)a narrativa lenta se transforma numa reflexão política interessantíssima: Afinal, houve uma revolução quando o ditador Ceausescu caiu em 1989 ou a Romênia simplesmente estava no embalo da queda do muro de Berlim? O filme cresce muito no final e o quase plano-sequencia de 30 minutos vale o prêmio de Cannes. Recomendo. Nota 8,0.

segunda-feira, outubro 23, 2006

MOSTRA DE CINEMA

Finalmente começou a Mostra. A 30ª! E provavelmente a minha 20ª,desde os filmes com o Kiko e o Sérgio Belíssimo nos idos de 80... Mas que comecei mesmo a frequentar,com credencial e tudo, essa é a 8ª.
Entre filho, afazeres profissionais e sociais consegui assitir 6 filmes neste fim de semana, a ver:

- COMEDIA DO PODER - Do Claude Chabrol- O primeiro da Mostra e o melhor que ví até agora. A estória é atualíssima e a atuação da Isabelle Huppert é fantástica, como sempre. Nota 8,5.

- THE WIND THAT SHAKES THE BARLEY - Do Ken Loach- Tudo bem, ganhou a palma de Ouro em Cannes mas não é um puta filme. A estória é interessante, viagem aos confins da irlanda, num momento histórico que eu pouco conhecia. O menino de "Breakfast in Pluto" tenta mas não consegue manter o nível do filme. Achei bem regular. Nota 5.

-EL CIELO DIVIDIDO-
Não sei quem é o diretor, também não faço a mínima questão em saber. Senão foi o pior está entre os 3 piores filmes da minha vida. Fui embora depois de 50 mins, coisa rara. Não merece mais nenhuma palavra. Nota 0,5. (valeu por ter encontrado um monte de gente conhecida que parece que também abandonaram o filme depois da minha iniciativa...Menos o Denis que não tava entendendo e ficou até o final.)

-DANCEFLOOR CABALLEROS- Interessantíssimo docuementário sobre a múcia eletronica em Cuba. O tema me agrada muito por isso curtí mais que a maioria das pessoas presentes. Bem amador, filmado em vídeo,só pra quem gosta mesmo. Nota 7,0


- BABEL- DO Iñarritu com roteiro do Arriaga. Filme mais esperado da Mostra por mim. tava babando pra ver. Não decepcionou e atendeu as expectativas na medida certa. Nem mais, nem menos. É um ótimo filme, mas a concepção do roteiro desconstruído e o clima já não é mais novidade da dupla Iñaritu/Arriaga por isso perde-se um pouco o efeito surpresa. A estória mexicana é fabulosa e a atuação da Adriana ...(?), a Babá mexicana é digna de Oscar. O núcleo do Marrocos também é muito bom e o japonês, mesmo com cenas fabulosas, não me convence no contexto geral do filme. Uma das melhores cenas do filme é a entrada da japonesa surda, louca de ecstasy num club em Tokio. Memorável.... Nota 8,0


- VOLVER -Depois de 10 champagens Kosher no Bar-Mizvah do filho da prima, Almodovar pareceu mais surreal do que nunca. Ás vezes vía a Penélope Cruz num mosaico caledoscópico ,efeito das bolhas kosher no meu cerébro. Nenhum argumento sobre o filme seria justificável. Lembro da excelente atuação ( e shape) da Penélope Cruz e como ela se transformava sob boa direção... A estória não me comoveu muito , talvez pelos problemas momentâneos de comunicações entre meus neurônios. Nota 6,5.

PAUSA HOJE PRA JANTAR COM CLIENTES E AMANHA CONTINUA !!!!!!!!

quinta-feira, outubro 19, 2006

mandado por e-mail a alguns amigos poucos dias antes da Mostra de Cinema começar...

THE U.S. VERSUS JOHN LENNON

Amigos,

Nas 48 horas que passei no Canadá devido a uma visita relâmpago a um cliente semana passada, assistí ao filme em questão e recomendo a todos que assistam na Mostra que se inicia nesta sexta-feira. Aliás este documentário abre a Mostra Internacional de São Paulo e depois passa mais 4 vezes.
Eu nunca soube dos incidentes diplomáticos entre o governo americano e o Beatle e o documentário mostra este período de 10 anos da vida dele em NY de maneira brilhante.
Mais brilhante ainda é ver , durante a guerra do Vietnam, uma entrevista coletiva dele e Yoko Ono nus, numa cama de hotel em NY enquanto uma multidão cantava nas ruas "All we are saying, is give peace a chance...."

Olhando a atual situação, seriam necessários 200 Lennons com seu delicioso romantismo utópico pra dar um pouco de sentido nisso tudo....


Vale a pena conferir! (e depois se filiar ao partido Republicano)