terça-feira, junho 05, 2018

RUA AUGUSTA - Pedro Morelli e Fábio Mendonça

                         Alguns meses atrasado, assisti nesse fim de semana a série " Rua Augusta", do Pedro Morelli e do Fabio Mendonça com produção da O2.

                         Tudo funciona muito bem, as interpretações são justas (menção especial ao Milhem Cortaz, excelente!), roteiro dinâmico e produção muito acima da média dos últimos seriados nacionais que assisti.

                       Com tons de Iñarritú em " Amores Brutos" e uma história duríssima mas hipnótica, foram 12 capítulos de 30 minutos sobre almas perdidas, encontros e desencontros numa pequena área da megalópole brasileira , a região onde ficava o club Vegas, na rua Augusta. É o underground paulistano escancarado!

                    Ps- Ainda tocado com a trilha sonora , espetacular, incluindo a ultima cena com uma performance ao vivo do Johnny Hooker . De tirar o fôlego.



segunda-feira, abril 23, 2018

RADIOHEAD - São Paulo - 22 de abril de 2018

                   Sobre o transe coletivo do Radiohead , ontem a noite no Allianz Park:

                  - O show do Radiohead é uma hipnose coletiva. Música profunda para alma e não consigo pensar em nenhuma outra banda que consiga fazer a mesma coisa comigo. Arcade Fire é outro grande show mas é mais corporal que mental. Radiohead é drama puro.

                - A voz do Tom York, aos 49 anos, é absurdamente limpa e os agudos não se alteraram em quase 30 anos de carreira;

               - A transformação de musicas ao vivo mostra que não são só bons músicos. São excelentes produtores. As versões que eles apresentaram de Everything in its Right Place e Lotus Flower foram sensacionais. Incrível a versatilidade.

              - Bem mais solto que da ultima vez que esteve no Brasil, Tom York e sua dancinha dominaram bem o palco e mesmo nas músicas mais densas a força da voz e da sua concentração levaram o estádio ao delírio diversas vezes.

              - O setlist paulistano apresentou várias surpresas. There There não tocou no Rio, nem Fake Plastic Trees mas foi Let Down que convulsionou o estádio do Palmeiras.

             - Impressionante o silêncio e a concentração da maioria das 30 mil pessoas durante as musicas mais profundas o que mostra que o transe realmente aconteceu.. Não era para principiantes...

           - Apesar do hecatômbico final com Paranoid Android e Fake Plastic Trees, senti falta de Karma Police .

          - Entre as músicas , em períodos de delirio seratoninico, buscava no celular passagem para Bogotá para ir no ultimo show da turnê na quinta-feira.... Lógico que não vou, but for a minute there, I lost myself.....

          Showzaço!

 

domingo, abril 01, 2018

O MECANISMO - José Padilha e Marcos Prado


Enquanto a esquerda brasileira alimenta a  audiência  com ameaças de processo judicial , a NETFLIX deveria se preocupar é com a qualidade técnica dos seus seriados que são lançados internacionalmente.
Depois da bomba do também brasileiro 3%, O Mecanismo , tentativa de retrato do início da operação Lava-jato, chama mais a atenção pela péssima atuação dos seus atores do que pela discussão política que suscita.  Selton Mello , o maior canastrão atual do áudio-visual brasileiro, se supera e interpreta um policial bi-polar  com frases de efeito ininteligíveis  que só consegui entender quando coloquei legenda.  Na esteira da má-dicção vem a policial interpretada por Carol  Abras . Apenas Enrique Diaz, interpretando  o doleiro Alberto Youssef tem uma atuação digna e salva a série.
A grande discussão sobre a tendência política do seriado é uma grande bobagem. Padilha  quis mostrar o início da Lava-Jato , que aconteceu durante os anos PT sendo inevitável a correlação temporal com seus principais personagens. Errou feio sim ao colocar a célebre frase de Romero Jucá , aquela “de estancar a sangria, com Supremo com tudo” como se fosse de Lula mas acertou ao mostrar Aécio Neves e Michel Temer como corruptos contundentes que são , não isentando nenhum lado.
O próprio juiz Sérgio Moro, quando questionado sobre a veracidade dos fatos durante a entrevista no programa Roda Viva, disse que obviamente existe uma dramaticidade nas relações entre políticos, empreiteiros, e promotores  no filme mas que o objetivo de relato documental sobre um determinado período que vivemos  foi  atingido pelo roteiro.
A dramaticidade sugerida por Moro , na minha opinião quase afundou a produção nas mãos do policial afastado Ruffo, intepretado por Selton Mello. A provável inspiração em Carrie  Mathison ( Claire Danes)  , a investigadora também bi-polar da CIA no seriado Homeland , não conseguiu ser tropicalizada e  deixou a trama  em vários momentos um tanto juvenil.
O único mérito de “O Mecanismo” é reforçar a mensagem que já sabemos há tempos.  A corrupção sempre existiu, está inserida em todos os níveis de nossa sociedade e na grande  política não se sobrevive se não se entra na engrenagem dos acordos, das propinas e dos esquemas fraudulentos.
No último capítulo resolvi mudar a legenda para o inglês para experimentar as sensações de um estrangeiro ao tentar acompanhar a confusa trama  orquestrada pela policia federal de  Curitiba. Não sei se passaria do segundo  episódio.Resultado de imagem para o mecanismo


sábado, fevereiro 24, 2018

Berlinale - Último Dia

          Acabou.
          Foram 9 dias , 19 filmes da competição, 3 filmes brasileiros da mostra Panorama e 1 filme da mostra do cinema culinário.
         Berlim durante o festival é o templo máximo do cinema e o mais alto lugar que um cinéfilo pode chegar.
        A cidade aos poucos vai se esvaziando, as sessões vão diminuindo e existe um clima de ressaca no ar.
       Hoje será a premiação no Palast as 19 horas.
       Espero que um dos meus 4 filmes ganhe ( Uttoya- Noruega, In den Gängen – Alemanha, Las     Herederas- Paraguay, Dovlatov- Rússia) nessa ordem.
       Durante estes 9 dias houveram conversas de filas com jornalistas, atores, diretores e amantes do bom cinema de todas as partes do mundo.
       Uma experiência memorável.
       Vai ser difícil superar.

quinta-feira, fevereiro 22, 2018

O PROCESSO - Maria Augusta Ramos


A tão esperada manifestação anti-impeachment e declaradamente   pró- PT ,anunciada aos quatro cantos de festival, aconteceu sob um frio de 2 graus e com um público de 20 pessoas embaixo do relógio, marco da Potsdamer Platz.
Segurando faixas acusando  o processo de golpe parlamentar e do fim da democracia no Brasil, brasileiros se revezavam no mega-fone entoando gritos de Fora Temer e tentando explicar aos dois alemães presentes o que estavam fazendo lá.
O protesto foi marcado antes da primeira exibição em Berlim do filme de Maria Augusta Ramos, um retrato técnico de todo o processo do Impeachemt,.
A documentação começa  no dia da aceitação do processo na Câmara  por Eduardo Cunha e termina no dia em que os deputados não acataram a denúncia contra o presidente Temer.
A primeira cena do filme, uma tomada aérea da esplanada, mostra o gramado dividido entre “vermelhos”e “amarelos”, sugerindo a divisão da sociedade.
            Ao encontrar a diretora um dia antes da projeção, perguntei se a visão era de um lado só.  “Não, eu fiz um documentário para retratar os fatos , mas isso não me impede de ter uma posição.”, afirmou.
            O que vemos na tela é  algo bem definido. Mesmo tentando mostrar que existia uma massa a favor do processo , o filme é totalmente focado na visão do Partido dos Trabalhadores e seus bastidores no processo “kafkiano”segundo o senador Lindbergh Farias.  Eis o nome do filme.
            São mais de duas horas de cenas compiladas das TVs estatais mostrando as votações na Câmara, no Senado e nas suas comissões.  Os brasileiros presentes não paravam de se lamentar nas esdrúxulas cenas da votação no Congresso no dia da 17 de abril de 2016. Aplaudiam toda vez que Dilma aparecia e vaiavam  Eduardo Cunha, Aécio Neves , Bolsonaro e vários da oposição. Foi um filme demasiado interativo para padrões alemães...
            As poucas cenas efetivamente filmadas,  acompanha os bastidores do PT e mostra  Gleisi Hoffman pudica , quase heroína. Em uma das poucas falas sensatas, Gleisi pergunta aos companheiros porque o partido se afastou dos movimentos sociais. Lindbergh Farias é caracterizado como cão-de-guarda , aquele que vai às armas se necessário mas é o Ministro José Eduardo Cardozo que arrancava efusivos aplausos com sua oratória firme e determinada a combater as falhas no processo.
            Do outro lado, o filme só se apóia em Janaína Pascoal e todas as sua bizarrices. Quando não está se alongando antes da sessão está tomando um Todyinho em cima dos autos. Motivo de muitas risadas durante a exibição, Janaína foi a única personalidade retratada condizente com seu comportamento. Faltou um contraponto.
            O filme consegue retratar as falhas dos argumentos da acusação e mereceria uma reflexão mais técnica se não fosse tão partidário. Sem  conseguir dinheiro do governo brasileiro através das leis de incentivo, o filme captou fundos do próprio Festival de Berlim através do World Cinema Fund e de “crowdfunding” segundo a diretora.. Talvez isso explicasse a presença da diretora da categoria Panorama, a qual o filme concorre a prêmio,  abrindo a sessão.
            Do meu lado direito um brasileiro se debulhava em lágrimas durante o filme pedindo justiça enquanto do outro, um casal de alemães politizados ( ele do SPD ,partido de esquerda e ela do CDU de direita) riam com as bizarras sessões no nosso parlamento. “Isso é um circo”, comentou ela no final da sessão.


 

terça-feira, fevereiro 20, 2018

DON'T WORRY, HE WON'T GET FAR ON FOOT - Gus van Sant


O novo filme de Gus van Sant exibido na manhã desta terça-feira para jornalistas no Palast foi ofuscado pela grosseria do ator principal  Joaquim Phoenix na coletiva de imprensa. Phoenix destratou vários jornalistas inclusive o representante da TV Globo ao responder de maneira grosseira que odeia “perguntas de festivais”e que não queria estar ali. No final ainda ficou de costas para os jornalistas constrangendo o diretor Gus van Sant.
Don’t Worry He Won’t Get Far On Foot marca o reencontro de van Sant e Phoenix após 25 anos quando filmaram To Die For ( Um Sonho sem limites, 1995).
O filme conta a história do cartunista americano John Callahan ( 1951-2010).  Callahan era um alcoólatra de mão cheia que sofre um acidente e fica tetraplégico. Sem conseguir se livrar do vício se rende a um grupo de 12 passos ao estilo dos Alcoólatras Anônimos.
 Fugindo do cinema de autor, sua marca característica com a qual venceu a Palma de Ouro em Cannes com Elefante (2003), Gus van Sant se rende ao cinemão mas obteve um bom resultado. Apresentado este ano em Sundance  e exibido pela primeira vez na Europa hoje o filme tem Phoenix como força central e mostra as dificuldades em se vencer o alcoolismo e a superação da tetraplegia.  
     A bebida era a maior deficiência de Callahan e o acidente foi seu resultado direto. A redenção de Callahan está na suas tiras cômicas de humor negro, amados por uns, odiados por outros levando ao cerne do debate sobre o politicamente correto.
O filme se passa na transição entre o governo Carter e o governo Reagan (1980) e começou a ser filmado na transição entre o governo Obama e o governo Trump (2017). Gus van Sant diz que naquela época, em menor proporção, a ascensão do republicano levou a sociedade a questionar o politicamente correto.
Alcoólatra e cadeirante e ajudado por um ex-alcoólatra gay, Van Sant diz que Callahan encontrava na sua arte , por vezes agressiva, a única maneira de vencer o preconceito e o vício. Disse ainda que hoje em dia os Estados Unidos vivem um pesadelo político sem precedentes e não existe mais limites para o desrespeito as diferenças.
Joaquim Phoenix tem de longe  o melhor desempenho entre os homens até aqui e mereceria o prêmio de melhor ator .Se não fosse pelo papelão na entrevista contaria com o apoio da maioria dos jornalistas da Berlinale. O filme também tem chances de levar o urso mas  tiraria do festival de Berlim a áurea de cinema de autor ,colocando-o no mesmo patamar dos festivais mais comerciais.


3 DAYS IN QUIBERON - Emily Atef


3 dias na vida de Romy Schneider.
             O filme alemão da diretora Emily Atef sacudiu a Berlinale nesta  segunda-feira.
             Romy Schneider, a eterna imperatriz Sissi , nunca conseguiu se livrar da conexão com seu personagem filmado quando Schneider tinha 17 anos.
            Aos 42 anos, depressiva e alcoólatra, Romy resolve dar uma entrevista ao jornalista Michael Jürgs da  revista alemã Stern, acompanhado do fotografo e amigo pessoal de Schneider, Robert Lebeck  (o grande ator alemão Charly Hübner).
Romy sempre teve uma relação difícil com a imprensa alemã que se interessava mais por seus escândalos que por seus trabalhos.
            A entrevista acontece durante os 3 dias que Romy está hospedada em um spa francês na cidade de Quiberon tentando se restabelecer.
            A interpretação pela atriz Maria Bäumer impressiona pela incrível semelhança de Bäumer com Schneider. Perguntada durante a coletiva se esse foi o motivo principal da escolha do papel, Bäumer disse que desde criança ouvia que era parecida com a atriz austríaca mas  nunca sonhou um dia representá-la.
            O filme consegue mostrar todo o charme e a vulnerabilidade da estrela  que nunca conseguiu fazer sucesso fora da Europa. O ano de 1981, quando acontece a fatídica entrevista, não foi um ano fácil para Schneider .Seu ex-marido se suicidou dois anos antes . Seu filho David, de 14 anos na época, resolveu deixar de morar com ela . Três meses após a estadia em Quiberon, David morre em uma tragédia que comoveu a Europa.
            O fotografo Robert Lebeck fez nestes 3 dias, imagens impressionantes da atriz, sempre em preto e branco que se tornaram parte importante do acervo de Schneider. A decisão de filmar em preto e branco se deu justamente pelas fotos de Lebeck o que faz do filme uma homenagem ao seu trabalho neste fim de semana.
            Emocionalmente instável, Schneider não conseguiu se manter abstêmia no spa e sua embriaguez foi um prato cheio para o jornalista alemão que manipulava a atriz para obter suas mais íntimas confidências. Em um momento atual onde  a veracidade e a origem  das notícias é questionado o filme toca no ponto nevrálgico da relação da imprensa com celebridades. O jornalista tem que sempre mostrar tudo o que vê, mesmo que isso ajude a afundar a imagem do entrevistado?
            Romy Schneider foi vitima dela mesmo na mesma intensidade que foi vitima dos outros. Era um mito que nunca conseguiu conviver com seu ego. O filme mostra sua fragilidade e não pode ser considerado um tributo. Segundo a diretora Emily Atef, se fosse para realizar uma homenagem teria escolhido outra época de sua vida que terminaria um ano depois, aos 43 anos.
            É um grande filme e virou motivo de orgulho dos alemães que circulam pelo festival . Estampou a capa dos principais jornais do país hoje, alguns já com o urso de ouro ao lado.



segunda-feira, fevereiro 19, 2018

UTTØYA 22.JULI - Erick Poppe



Oslo, 21 de julho de 2011. Enquanto a policia se ocupava de uma bomba que explodiu em um prédio do governo deixando oito vítimas, um atirador norueguês de extrema-direita caçava com um fuzil  jovens do Arbeiderpartiet (Partido  Trabalhista Norueguês) que acampavam na ilha de Uttøya, perto da cidade.
O filme de Erick Poppe foi o último a integrar a seleção da competição e a edição do filme  terminou, segundo ele, na sexta-feira , um dia após o início do festival. É de longe, o melhor filme em disputa até agora.
          Após mostrar em forma de documentário cenas da explosão no centro de Oslo, a história se transporta à ilha de Uttøya onde 500 jovens acampavam. A câmara segue Kaja ( a excelente atriz Andrea Berntzen), uma das acampantes.
 A partir de um sensacional plano-sequência de 72 minutos, cria um suspense de tirar o fôlego. Os 72 minutos do plano foram exatamente o tempo que o atirador esteve na ilha caçando os jovens como animais que se escondiam de um lado para o outro na maior tragédia recente da história da pacifista Noruega. Foram 79 mortos, quase 100 gravemente feridos e mais de 300 com danos psicológicos severos.
Kaja via seus colegas morrendo um a um enquanto se dividia entre ajudar os feridos e salvar sua própria vida.
Através de uma direção impecável com cada cena minuciosamente  pensada antes do plano, Uttoya 22.Juli leva o espectador a uma imersão nas emoções vividas pelos jovens daquele massacre.
Na coletiva de imprensa após a sessão, Poppe diz que nestes 8 anos desde o ataque, sempre foi discutido a tentativa de entender como isso pode acontecer num país tão pacífico, além do foco no atirador e sua motivação política. Nunca, segundo o diretor, o foco foram os jovens que viveram o massacre. Este filme foi um resgate das emoções vividas na ilha naquele dia.
Durante as filmagens, muitos foram os questionamentos da sociedade norueguesa se não era cedo para se retratar a tragédia. O foco nos jovens foi o fator de convencimento.Para os noruegueses que assistiram o filme  na pré-produção, ele foi um meio de libertação das angustias represadas desde os acontecimentos.
Erick Poppe disse ter tido dificuldades em escalar o casting. Muitos atores renomados se recusaram a fazer o filme.Disse ainda que foi muito difícil reviver a história na mesma ilha onde tudo aconteceu e contou com a ajuda permanente de psicólogos para monitorar não só os atores mas toda a produção que se encontrava em Uttøya.
O filme é uma ficção com base nos depoimentos de alguns sobreviventes e a intenção era não causar mais sofrimento aos familiares de vitimas com nomes e personagens reais. Isso por nenhum instante tira o brilho deste importantíssimo retrato.
O filme se faz ainda mais necessário com o crescimento da extrema-direita no mundo. Vários são os países que já possuem governos extremistas ou tendem a este caminho, como no caso do Brasil. A intolerância acompanha estes governos e através de obras como essa devem ser sempre combatidos.
A presença de três dos sobreviventes na coletiva de imprensa emocionou os jornalistas.
Uttøya 22.Juli é um forte candidato ao Urso de Ouro, não só pela sua qualidade técnica mas pela importante mensagem política, condizente com o festival em que se lança. Alem disso, a jovem atriz Andrea Berntzen , ovacionada ao entrar na coletiva,tem grandes chances de levar o prêmio de melhor atriz.
Filmaço.



 

BIXA TRAVESTI – Kiko Goiffman e Claudia Priscilla


Nem homem, nem mulher. Nem gay ,nem travesti. Ou seria homem e mulher, gay e travesti?
Um dos filmes mais esperados da mostra Panorama lotou a primeira sessão do Cinestar na Potsdamerstrasse no domingo a noite. Como não houve sessão para jornalistas os ingressos foram muito disputados com marcante presença brasileira.
Kiko Goiffman e Claudia Priscila apresentaram o filme ao lado de Linn da Quebrada que além de personagem principal ajudou no seu roteiro. Antes do inicio da sessão ,Kiko leu um documento que está sendo lido por todos os diretores brasileiros contra o governo Temer. A Berlinale, afinal, é um palco político.
O filme brasileiro conta a história de Linn, negra, pobre e sem um gênero definido. Fadada a ser passivamente considerada a "escória da sociedade”, Linn faz de seu corpo a sua libertação.  É através dele que ela se comunica, se transforma, sobrevive.
Ela vem da periferia de São Paulo, sua mãe é domestica e através de um discurso libertário se auto-afirma como a “voz de muitos”.
Linn é uma artista e junto com sua amiga de infância também sem gênero definido Jup do Bairro, se apresenta  sempre com fantasias sexualizadas e fetichistas em clubes alternativos da cidade .  Ao misturar funk com remixagens eletrônicas, suas performance são uma maneira de confrontar a ordem hétero-normativa branca  e machista ao qual , segundo ela, foi imposta.
O corpo é o centro de tudo. É dele que vem sua resposta através de uma mistura de travestismo sem silicone com barba e salto alto. É uma mulher com pênis, uma “mulher-cis”. Seu gênero nunca será definido pela sua genitália, diz ela.
Alternando entrevistas numa rádio com shows e momentos de intimidade, Linn é um ícone da liberdade. Não existe rótulos. É uma ode ao pluralismo e a aceitação.  Mesmo durante seu tratamento de um câncer no testículo, Linn creditava sua doença a uma necessidade ainda maior de usar seu corpo como instrumento político e fazer dele a sua voz contra o preconceito.
Na sessão de perguntas após o filme, Goiffman definiu seu filme como híbrido. É um documentário mas que por vezes ultrapassa as fronteiras do filme narrativo ou vice-versa. Assim como Linn que pode ser homem mas ultrapassar a fronteira para ser mulher. Ou ser gay e passar a fronteira para ser trans. Ou vice-versa.
Foi aplaudido por mais de cinco minutos após o final da sessão.

THE PRAYER ( A Reza) – Cèdric Cahn

O segundo e último filme francês na competição não empolgou a platéia de jornalistas na gelada manhã de domingo em Berlim.
The Prayer conta a história de  Thomas, um jovem viciado em drogas que é levado a um centro de reabilitação nos Alpes.  Fundado pela igreja católica da região, o estabelecimento, bastante rigoroso porém acolhedor, reúne jovens de diferentes países e realidades sociais.
Bem dirigido, o filme conta o dia a dia dos internos, desde as  duras cenas de desintoxicação quando Thomas chega e sofre de abstinência de heroína, passando pela difícil adaptação e negação até a entrega à religião como apoio para se reerguer.
Passando por cenas que lembravam rituais de autoajuda o filme possui dois momentos marcantes: a cena em que Thomas finalmente  se entrega à musica e canta junto com seus colegas e quando , numa festa de confraternização entre a ala de homens e de mulheres, muitos fazem discursos numa espécie de sessão dos Narcóticos Anônimos. Nesta última cena fica clara a identificação da drogadição como um sintoma de um trauma causado na infância na maioria dos dependentes. Abuso sexual, omissão paterna, violência domestica eram algumas das histórias. E a infância, sempre ela, jardim fértil da instalação do evento traumático que posteriormente se desloca para o inconsciente gerando o sintoma, sendo a droga não só um modo de anestesiar o passado mas também um modo de não esquecê-lo.
Cedric quis tentar estabelecer uma relação entre o prazer das drogas e a redenção na fé e na oração. Na entrevista coletiva após o filme disse que um dos objetivos  era mostrar que o êxtase obtido com as drogas pode ser substituído pela devoção e entrega à religião. Não convenceu os jornalistas que receberam o filme com frieza.

sábado, fevereiro 17, 2018

EVA - Benoît Jacquot


Isabelle Hupert é a estrela do novo filme de Benoit Jacquot, o veterano diretor francês dos aclamados Sade (2000), Tosca (2001) e  Adeus Minha Rainha ( 2012) .
No papel de uma prostituta de luxo a sensação é de dèja-vu. Parece que já vimos o filme pela perfeição de Huppert  na pele de Eva.  Aliás ,este talvez seja o maior defeito do filme. Parece que estamos na continuação de Elle que Huppert fez com Paul Verhoeven no ano passado.
O filme é uma adaptação do livro do inglês James Chase e  já teve um versão no cinema há 50 anos atrás.
Bertrand é um jovem enfermeiro que cuida de um escritor idoso. Ele presencia sua morte  enquanto trabalhava em seu apartamento e rouba os manuscritos do seu último livro antes de fugir.
Bertrand se apropria dos escritos e transforma em uma peça de teatro que faz um estrondoso sucesso em Paris. Ele é agora um renomado e famoso escritor e precisa continuar sua carreira.
Caroline, sua rica e bonita namorada, pressiona Bertrand para escrever outro livro mas esconder a verdade é seu maior desafio.
Em uma ida sozinho  à casa de seus sogros nos Alpes, contrata os serviços de Eva e uma relação de poder e conquista se inicia entre o  falso escritor e a prostituta dos milionários da região.
O resultado da obra de Jacquot tem um tom noir, atuações precisas mas derrapa no conjunto.  Como dito, Huppert não é mais o fator surpresa e o roteiro não se sustenta sozinho.
A recepção na sessão de jornalistas foi fria e o filme não deve fazer muito barulho após seu lançamento.
O filme passou ao mesmo tempo em três salas do conjunto Cinemaxx e mais uma vez assisti junto com o júri. Desta vez , na fileira da frente, a esplendorosa cabelereira branca de Ryuchi Sakamoto me chamava mais atenção que o tom noir do filme de Jacquot. 


DOVLATOV - Alexey German Jr.



O único filme russo da competição foi exibido na lotada sessão das 9 da manhã no Palast.
Dovlatov conta a história do escritor russo Sergei Dovlatov durante um período da sua vida em Leningrado (atual São Petersburgo) no ano de 1971.
A União Soviética, sob a mão de ferro de Brezhnev , comemorava mais um ano da revolução , mas ao contrario dos membros do partido, a população em geral sofria com a falta de perspectiva.  Escritores tinham que fazer parte do comitê  literário soviético e suas obras necessitavam de aprovação de camaradas. Além disso  deviam sempre ter um cunho alegórico de apoio ao regime. Aqueles que não seguissem as regras eram condenados ao ostracismo e muitas vezes perseguidos, presos ou exilados.
Dovlatov nunca teve suas obras publicadas enquanto morava em Leningrado mas também nunca desistiu de ser reconhecido.  Seus escritos possuíam sempre teor de denúncia e sua visão sobre o universo soviético era sempre rejeitada pelos membros oficiais do governo. Muitas das obras completas que Dovlatov enviava ao comitê literário acabavam descartadas sem nunca terem sido lidas. Em uma delas ele descreve como os trabalhadores que construíam o metrô de Leningrado em condições sub-humanas, encontraram os restos mortais de 30 crianças enquanto escavavam. O destino do manuscrito foi a lixeira da sala da secretária do comitê.
Outros escritores tinham os mesmos problemas e muitos foram perseguidos como seu amigo Joseph Brodsky que acabou no exílio. Nos encontros ilegais destes intelectuais à margem da sociedade , regados a jazz e muita vodka,  questionava-se  como o povo que deu ao mundo Dostoievsky, Tschekov, Tolstoi, Pushkin, entre outros tantos mestres, agora era calado por um sistema de controle e manipulação. A voz era a única coisa que restava a estes intelectuais e ela ia aos poucos sendo calada.
Sergei Antonov só saiu do seu pais em 1989 após a queda do regime mas morreu no ano seguinte em Nova York aos 48 anos. Ele é hoje considerado um dos maiores escritores russos do século XX.
O filme de Alexey German tem ritmo, retrata com vigor a realidade soviética do início dos anos 70 e coloca o russo  na lista de grandes cineastas contemporâneos do seu pais. Na coletiva de imprensa, a mídia russa presente em peso lembrou seus prêmios em Veneza por Paper Soldier  (2009) e exaltou sua importância no cinema russo atual. 

sexta-feira, fevereiro 16, 2018

AS HERDEIRAS - Marcelo Martinessi


O primeiro grande filme em competição desta Berlinale é paraguaio e tem co-produção brasileira!
            Estreando seu primeiro longa, o diretor nascido em Assunção levou ao Palast uma história belíssima retratada no coração da sociedade paraguaia.
            Chela e Chiquita formam um casal há muitos anos. Ambas vivem um difícil momento financeiro e precisam vender seus bens para poder sobreviver. Chela pertence à elite paraguaia enquanto o roteiro sugere que Chiquita era sua empregada domestica antes do relacionamento começar.
            A dinâmica do casal é bem definida. Chela é passiva, inclinada a depressão e vive de memórias enquanto Chiquita é extrovertida e comanda a vida das duas, inclusive a compra regular de Rivortil e outros remédios para dormir da companheira.
            Uma dívida bancária leva Chiquita a prisão e Chela se vê sozinha em um mundo novo sem saber lidar com seus próprios anseios.
            Apoiando-se no velho Mercedes herdado de seu pai, uma das poucas coisas que lhe resta, Chela começa a prestar serviços de taxi à senhoras da alta sociedade paraguaia, que vivem no seu bairro e  se encontram regularmente para jogar cartas.
            Enquanto se divide entre visitas a penitenciária de Assunção e a casa de suas passageiras, Chela conhece Angy, a vibrante e sexualizada filha de uma de suas vizinhas. Angy faz Chela sonhar com aquilo que poderia ter sido e um novo espectro de possibilidades  se abre em sua vida, conseguindo enxergar a relação disfuncional de poderes que vive há tanto tempo .
            Martinessi filma com delicadeza o universo feminino e através da brilhante atuação de Ana Brun (Chela)  leva o espectador a refletir sobre como a decadente elite  sul-americana do século 20 consegue se adaptar às mudanças impostas pela ascensão de uma nova ordem social e comportamental.
            Um dos objetivos de festivais como a Berlinale, é levar ao grande público realidades de lugares distintos, provocando uma visão de  como se vive em diferentes  sociedades. O filme paraguaio foi uma grande viagem nesse sentido.
            Estamos no começo do festival e As Herdeiras pode até não levar o Urso de Ouro mas Ana Brun já é grande favorita ao prêmio de melhor atriz.    
     O filme foi aplaudido pela maioria dos jornalistas que lotavam o Berlinale Palast na sessão das 9 horas da manhã....


    

CENTRAL AIRPORT – Karim Ainouz


Depois de assistir a Dansel , uma bomba americana na seção da competição com direito a vaias dos jornalistas, resolvi prestigiar o diretor brasileiro Karim Ainouz ( Madame Satã, Praia do Futuro) na mostra Panorama.
Karim mora em Berlim há 10 anos e já tinha se arriscado num filme “alemão” com Praia do Futuro (2014) que concorreu ao Urso de ouro.
Desta vez  o diretor brasileiro entra de cabeça num assunto polêmico ao abordar a questão dos refugiados.
O emblemático aeroporto de Tempelhoff, idealizado por Hitler para ser o maior do mundo  mas abandonado depois da segunda guerra é um dos vários tótemes que atordoam a consciência alemã. Palco de festas undergound após a unificação nos anos 90  , Tempelhoff hoje abriga nos seus hangares ,refugiados, principalmente sírios, que acabam de chegar na Alemanha. Como se fosse uma espécie de purgatório entre o inferno da travessia do Mediterrâneo e a tão almejada redenção da vida nova no primeiro mundo. Os imigrantes  que querem se estabelecer em Berlim são obrigados a passar por esta quarentena enquanto aguardam seus documentos com status de refugiados.            
O filme acompanha o dia a dia de alguns personagens reais com foco em Ibrahim, um sírio de 18 anos cuja estadia em Tempelhoff foi de 16 meses ao invés das quatro semanas prometidas pelo governo alemão.
Misturando um tom documental com momentos de narrativa convencional, o filme de Ainouz se perde na linearidade deixando ao espectador a impressão de imagens vazias que chegam a ser desconexas, deixando o filme por vezes cansativo.
Interessante , no entanto, a retratação da área central de Tempelhoff como parque de laser de alemães enquanto, separados por uma grade, refugiados aguardam a tão esperada possibilidade de um recomeço .
É um tema complexo que merece um debate mais profundo mas a experiência vale pela ousadia de Ainouz, um diretor brasileiro mexendo na mais européia das feridas.


quinta-feira, fevereiro 15, 2018

THE ISLE OF DOGS - Wes Anderson



Desde que soube que Wes Anderson abriria o festival com uma animação, tive certa  curiosidade sobre o porquê desta escolha. O peso do diretor ou a magnitude da obra?
A sessão para jornalistas hoje em Potsdamer Platz que abriu o festival estava abarrotada. Eram duas salas de aproximadamente 600 pessoas cada uma , de todo o mundo com seus bloquinhos de anotações. Tive a sorte de cair na sala do júri e sentei algumas fileiras atrás do presidente Tom Tykwer e da bela atriz belga Cécille de France.
Isle of Dogs é uma animação ousada. Em um futuro próximo na cidade japonesa de Meagasaki, o corrupto prefeito Kobayashi é eleito através de uma eleição fraudulenta que dividiu o congresso e ameaçou sua governabilidade.. Através de estudos falsos com interesses ocultos de indústrias farmacêuticas , uma gripe canina assola a região fazendo o prefeito tomar uma medida populista de isolar os cães doentes  em um aterro sanitário numa llha próxima a cidade. O filme permeia a relação entre as gangs de cães e ,com a ajuda de ativistas de Megasaki, provar que são objetos de um esquema fraudulento capitaneado pelos dirigentes no poder.
Apesar da estética audaciosa e da tentativa de se inserir em um debate político, o filme  não chega a ser  original. A animação Valsa com Bashir (2008)  do israelense Ari Folman sobre a guerra no Líbano foi o primeiro a misturar recursos gráficos com conteúdo político.
É fato que o momento mundial pede uma reflexão de como somos governados e como podemos renovar nossos sistemas políticos. Talvez a intenção de Anderson tenha sido escancarar o tema para cutucar  alguns modelos obsoletos do capitalismo  e ser mais uma voz anti-Trump. O resultado, no entanto, não condiz com a importância do tema.
Após a fria recepção  e dos poucos aplausos ao final , descobri que a escolha do filme para abrir o festival foi uma decisão política. Tudo aquilo o que o filme quer combater.


Segue o link para o trailer : https://www.youtube.com/watch?v=dt__kig8PVU

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quarta-feira, fevereiro 14, 2018

O Cinema Invade Berlim

Berlim foi presenteada com um dia de sol na véspera do início da Berlinale. Os sete  graus depois de quase um mês de frio rigoroso até para padrões alemäes, animou o encontro de jornalistas e produtores na  retirada da credencial. Ao contrário do meu imaginário germânico que tudo estaria funcionando em perfeita ordem, muito trabalho ainda deverá ser feito para que tudo fique pronto até amanhã. São dezenas de pessoas montando os guichês, construindo as passarelas , credenciando profissionais.
                  A cidade, no entanto, já  respira cinema. No aeroporto de Tegel, fotógrafos aguardam artistas e diretores que chegam de todas as partes do mundo. Banners com o urso em pé, símbolo do festival, se espalham por todos os lados mas é na Potsdamer Platz onde acontece o centro nevrálgico do festival. É lá que está o hotel Hyatt, responsável por abrigar a maioria dos artistas e  o centro de imprensa além da  maior parte  dos cinemas que fazem parte do circuito do festival  incluindo o Berlinale Palast onde são realizadas as noites de gala nas première dos filmes da Competição.
A partir de amanhã, com a exibição de Isle of Dogs de Wes Anderson será dada a largada deste mega evento com 550 filmes, painéis de discussão, eventos paralelos e um grande mercado de comercialização de filmes exibidos em primeira mão neste, que é considerado o maior evento cinematográfico em termos de público do mundo.











( Pessoal trabalhando no Berlinale Palast um dia antes do início do festival)

terça-feira, fevereiro 06, 2018

Sai a lista dos concorrentes ao Urso de Ouro no Festival de Berlim 2018


            O Brasil ficou mais uma vez de fora da competição principal do festival de Berlim.
            Apesar de ter ganhado o Urso de Ouro  duas vezes com Central do Brasil e Tropa de Elite, desta vez os filmes brasileiros terão apenas  algum destaque na mostra Panorama, paralela à mostra principal. Alem disso José Padilha irá representar os EUA (!) com o filme “7 Days in Entbebbe”mas fora da competição.
            O júri também foi definido, presidido pelo alemão Tom Tykwer de Corra, Lola, Corra e conta com a ilustre presença do japonês Ryuchi Sakamoto.  Alem disso forma o grupo a atriz belga Cecile de France de Albergue Espanhol, as americanas Adele Romanski, produtora de Moonlight, e Stephanie Zacharek, renomada critica da revista TIME, e o espanhol Chema Prado, diretor da cinemateca espanhola.

            Segue a lista completa dos 19  filmes que concorrerão este ano:

-       3 Tage in Quiberon (3 Days in Quiberon) by Emily Atef (Germany / Austria / France)
-       Ang Panahon ng Halimaw (Season of the Devil) by Lav Diaz (Philippines)
-       Damsel by David Zellner and Nathan Zellner (USA)
-       Don't Worry, He Won't Get Far on Foot by Gus Van Sant (USA)

-       Dovlatov by Alexey German Jr. (Russian Federation / Poland / Serbia)

-       Eva by Benoit Jacquot (France / Belgium)

-       Figlia mia (Daughter of Mine) by Laura Bispuri (Italy / Germany / Switzerland)

-       Las herederas (The Heiresses) by Marcelo Martinessi (Paraguay / Uruguay / Germany / Brazil / Norway / France) - First Feature
-       In den Gängen (In the Aisles) by Thomas Stuber (Germany)
-       Isle of Dogs by Wes Anderson (United Kingdom / Germany) – Animation

-       Khook (Pig) by Mani Haghighi (Iran)

-       Mein Bruder heißt Robert und ist ein Idiot (My Brother’s Name is Robert and He is an Idiot) by Philip Gröning (Germany / France / Switzerland)

-       Museo (Museum) by Alonso Ruizpalacios (Mexico)
-       La prière (The Prayer) by Cédric Kahn (France)

-       Toppen av ingenting (The Real Estate) by Måns Månsson and Axel Petersén (Sweden / United Kingdom)

-       Touch Me Not by Adina Pintilie (Romania / Germany / Czech Republic / Bulgaria / France) - First Feature

-       Transit by Christian Petzold (Germany / France)

-       Twarz (Mug) by Małgorzata Szumowska (Poland)

-       Utøya 22. juli (U - July 22) by Erik Poppe (Norway)

quarta-feira, janeiro 24, 2018

THE POST - Steven Spielberg


Foi-se a época dourada do jornalismo quando os grandes jornais eram a fonte principal de notícias . The Washington Post e The New York Times dominaram a mídia americana por vários anos até recentemente serem desafiados pelas mídias digitais e suas fake news e pós-verdades.
            The Post se passa durante o governo Nixon e mostra o que talvez tenha sido a semente de Watergate e sua posterior renúncia : o caso Pentagon Papers.
            Através de um documento considerado ultra-secreto de 14 mil páginas  vazado do governo americano que prova mentiras durante a guerra do Vietnam,  o filme narra com detalhes a força dos então arqui-rivais jornais de Nova York e de Washington contra a Casa Branca e a Suprema Corte americana.  Era a liberdade de imprensa que estava em jogo contra a grande política e interesses  econômicos.
            Numa dobradinha inédita de Merryl Streep como a herdeira do Washington Post  e Tom Hanks, seu editor,  o filme tem força  por meio de um roteiro dinâmico e inteligente.
            Mesmo com seus momentos spilbergianos e sem a força de  Spotlight, outro filme de teor jornalístico mas com muito mais vigor narrativo, The Post é um grande concorrente ao Oscar de 2018.  Em dias de governo Trump e sua guerra à mídia e às minorias, o filme vem como voz de oposição ao discretamente comparar Nixon ao atual presidente e sugerir a ligação com o caso Watergate, o atual Russiagate?
            Alem disso, colocar Merryl Streep, feminista declarada, como heroína da história, num momento tão importante para a igualdade de gênero é mais um sinal que Spielberg quer provocar. E se depender dos humores de Holywood pode ser uma das surpresas que o Oscar deste ano nos promete. 

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